Este texto foi escrito especialmente pensando nos nossos clientes e amigos que nos perguntam: “Mas quando eu sei que tenho que usar Pensamento Sistêmico?”
A resposta cretina é: “Sempre.” No entanto, não é a resposta pragmática. A resposta pragmática é: “Quando ocorre algo mais complexo, um problema em que o ‘furo é mais embaixo’. Algo que já se tentou outros métodos de solução e eles não funcionaram a contento”. Tendo trabalhado muitos anos com questões complexas em empresas e cidades, começamos a ter uma ideia da teia maior que provoca as dificuldades humanas mais profundas. Vejamos.
Um filme de 1990, chamado “Ponto de Mutação”, já ilustrava bem, mais de 30 anos atrás, as dificuldades pelas quais passamos diante dos problemas globais. Nesse filme, uma cientista está preocupada com o uso bélico das suas descobertas e se coloca a contemplar as questões humanas. A personagem Sonia Hoffman, uma física, avalia que saímos de uma crise para entrar em outra, pois sofremos de algo mais profundo, uma crise de percepção.
A crise de percepção pela qual passamos nos impede de enxergar soluções mais amplas para problemas complexos, como a crise climática, a de energia ou a da água. A crise de percepção se manifesta no tipo de solução que damos, como argumenta Sonia no filme. Por exemplo, a ideia dos 3R, reciclar, reduzir, reusar, é de pouca eficácia. Não só porque não trata das causas do problema, mas também porque a solução pode provocar ainda mais problemas. O entendimento profundo e a ação sustentada sobre o problema das crises ambientais, como argumenta Sonia, depende de compreender o quadro mais amplo.
Problemas Organizacionais Complexos
Permita-se um pequeno exercício. Faça uma lista de todos os problemas realmente importantes, críticos ou estratégicos que sua empresa ou área enfrenta. Esta lista, por exemplo, pode começar com dificuldade de conseguir engajamento, reclamações sobre a inexistência de feedback, má qualidade da comunicação, excesso de demandas, sobrecarga, stress, problemas mentais e emocionais, baixa qualidade, atrasos na entrega de pedidos, insatisfação do cliente, maus resultados.
Mas, eis que nos deparamos com dificuldades mais profundas, como excesso de hierarquia, baixa autonomia, falta de transparência, falta de protagonismo da liderança, não se pratica o que se prega, falta de alinhamento, baixa colaboração, excesso de pontos de esforços em ESG, falta de diversidade e inclusão. O quadro se mostra mais complexo, pois aquilo que acreditávamos ser pontos centrais são, na verdade, sintomas de problemas estruturais mais profundos.
Acabamos, por fim, identificando elementos ainda mais enraizados, como falta segurança psicológica, falta de capacidade de gerenciar conflitos, medo de se expor, baixa resiliência, excesso de demandas de stakeholders, falta de foco e falta de visão sistêmica. E o mais importante: todos os problemas interligados, com importantes modelos mentais sustentando-os.
Expandindo a Percepção
Frequentemente fazemos isso nas organizações em que trabalhamos. Começamos interessados em uma situação que merece atenção no momento e acabamos integrando um grande número de problemas. Isso, obviamente, para nós, hoje, não é de surpreender. Pensar sistemicamente os problemas organizacionais implica expandir a capacidade de perceber o todo, no tempo e no espaço. Isso nos leva a considerar o problema, mas também seus inter-relacionamentos; a considerar a situação presente, mas também a história e os cenários futuros. Leva a perceber o que está posto, mas também toda a dinâmica mais ampla que gera tais problemas. Assim como a Sonia, não conseguimos mais nos furtar a perceber que existe uma crise de percepção na sociedade e nas organizações. Torna-se inevitável pensar o todo. Uma vez que somos envolvidos pelo Pensamento Sistêmico, não há volta.
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