(um resumo da obra Chopra, Deepak. Ford, Debbie. Williamson, Marianne. O Efeito Sombra. São Paulo, Lua de Papel, 2010)

A obra “O Efeito Sombra” trata da visão de três autores sobre o que é a sombra, qual a força armazenada nela e como disparar esta força a favor de uma vida mais integrada. A manutenção da sombra, os aspectos recalcados da nossa mente ou que sentimos medo ou vergonha e que mantemos escondidos no fundo do nosso self, segundo os autores, impedem que possamos “expressar de maneira inteira o nosso eu, de falar nossa verdade e viver uma vida autêntica. Somente ao abraçar nossa dualidade é que nos libertamos dos comportamentos que poderão potencialmente nos levar para baixo. Se não reconhecermos integralmente quem somos, é certo que seremos tomados de assalto pelo efeito sombra” (p.8-9). A ideia é que a sombra, termo popularizado pelo psicólogo suíço Carl G. Jung, ganha força exatamente quando a negamos. A negação dos nossos aspectos sombrios nos torna fragmentados, não-inteiros.
Chopra crê que nossos aspectos sombrios podem ser coletivos. Escondemos através de padrões comuns de comportamento aspectos sombrios. Segundo o autor, isto ocorre em uma espiral profunda, desde “ingredientes” mais inofensivos até os mais autodestrutivos:
Segredo. Aprendemos a não revelar nossos impulsos e desejos básicos.
Culpa e vergonha. Uma vez que impulsos e desejos básicos estavam ocultos, davam uma sensação ruim.
Julgamento. Qualquer coisa que desse uma sensação ruim tornava-se errada.
Culpar os outros. Queríamos saber quem era responsável pela dor que sentíamos.
Projeção. Um bode expiatório conveniente era elaborado, podendo ser um inimigo odiado ou uma força demoníaca invisível.
Separação. Fizemos tudo que podíamos para arrancar essa força demoníaca para fora de nós. Os inimigos era “os outros”, contra quem era preciso se resguardar e com quem tínhamos que lutar.
Conflito. A projeção não conseguia afastar a dor permanentemente, portanto, resultava num estado constante de guerra do interior versus o exterior” (p. 47).
Chopra resume o efeito assim: “A dualidade está onde você está. A sombra o cercou com uma névoa de ilusão. Seu self dividido é a primeira e mais danosa ilusão” (p. 48). É um processo em que a sombra aumenta ao manter segredos de você mesmo e dos outros, fomentar culpa e vergonha, ser injusto consigo próprio e com os outros, culpando outros pela sua dor interior, ignorando as próprias fraquezas ao criticar os que estão à volta, separando-se dos outros. Tudo isto são escolhas e Chopra aconselha que sair deste processo e usar a sombra a seu favor é um processo de escolhas opostas. Envolve 1) parar de projetar, 2) desprender-se, 3) abrir mão do julgamento pessoal e 4) reconstruir o próprio corpo emocional.
1) Parar de projetar: projeção é uma defesa para evitar olhar para dentro de si próprio. O modelo mental predominante que dispara a projeção é “Não posso admitir o que sinto, então imagino que você (ou ele/ela) sinta”. A projeção adquire as seguintes formas típicas, comportamentos que escondem um sentimento: minha superioridade que camufla o fracasso ou a rejeição; injustiça contra mim que oculta a sensação de culpa; arrogância que camufla a raiva e a dor profunda; defensividade que camufla a sensação de fraqueza; culpar os outros que camufla a sensação de agir errado e a vergonha; idealizar os outros que camufla a sensação de que você é uma criança fraca e indefesa; preconceito que camufla sentimento de  inferioridade; ciúme que camufla o próprio impulso de desvio ou inadequação sexual e; paranoia que camufla ansiedade.
A projeção é sutil, mas é uma porta aberta para a sombra. Para interrompê-la, é preciso enxergar o comportamento e entrar em contato e fazer as pazes com o sentimento camuflado. Enxergar o comportamento envolve analisar as áreas de negatividade do próprio dia-a-dia. Depois, ao invés de projetar nos outros, olhe para si mesmo e veja o que esta projeção diz sobre si próprio. Pergunte-se em situações negativas: “O que eu estou realmente sentindo agora?” Isto dá uma escolha. Então faça as pazes com o sentimento. Diga: “Eu o vejo, você me pertence.” Ouça a história do próprio sentimento. E continue a fazer-se a pergunta: “Por que preciso me defender?”
2) Desprender-se: envolve reconhecer que o sentimento oculto profundo lhe pertence, mas que ele não é você. “Isto é meu, mas isto não sou eu.” Não se identifique. Desprendimento não significa indiferença, mas demonstra que você realmente não quer energias negativas grudadas em você.
3) Abrir mão do julgamento pessoal: desenvolva compaixão por si próprio. Diga: “Tudo bem, eu entendo.” Isto começa a dissolver o juiz interior.
4) Reconstruir o campo emocional: o campo emocional, como o físico, deve ser nutrido. Envolve: tornar-se mais inteiro, aprender a ser resiliente, dissipar os demônios, curar feridas antigas, esperar o melhor de si mesmo, adotar ideias realistas, empenhar-se, ser generoso principalmente consigo, enxergar além dos medos, aprender autoaceitação e comunicar-se com seu Eu sagrado.
Em resumo, tudo envolve trocar o julgamento pela verdadeira experiência de compaixão, amor e perdão. Este é o trabalho do verdadeiro guerreiro espiritual: inclinar a balança para a evolução ao invés da entropia e declínio.
A plenitude além da sombra implica, então, transcender o nível do problema indo para o nível da solução. Não relute no nível da sombra. Transcenda-a e aos conflitos decorrentes: segurança e insegurança, amor e medo, desejo e necessidade, aceitação e rejeição, Um e muitos.
A solução transcendente para cada conflito é expressa desta forma por Chopra:
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Segurança x insegurança: estabeleça-se em seu verdadeiro self. Segundo o autor, é tudo o que você precisa para se sentir seguro em um mundo incerto e fora de controle. “A dualidade é insegura e a plenitude é segura” (p. 89). Para estar seguro neste tipo de mundo, o importante é a segurança psicológica. Para Freud a segurança é um fator derivado do papel dos pais nos três primeiros anos e, para Jung, um elemento enraizado na psique coletiva. Terapia pode ser importante, mas Chopra admite que os resultados não têm sido animadores. “Você se sentirá seguro quando descobrir que tem um self essencial” (p. 91) O autor parece sugerir a dimensão espiritual, além da psicológica.
·        Amor x medo: alinhar amor com força interior. Viver em amor é viver na alegria da plenitude. Não é um estado estático, mas dinâmico, evolutivo, inspirador e unificador, pois parte da destruição das fronteiras da separação.
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Desejo x necessidade: para Chopra, a solução é a percepção sem escolha. Quando em conflito, a sugestão é optar por não fazer uma escolha e abrir mão de escolher um lado. É como a ideia indiana de darma: encontrar o trabalho certo e fazer a coisa correta com seu comportamento; uma virtude ou modo correto de viver. É nessas circunstâncias que se fica verdadeiramente descontraído, onde há ausência de culpa ou julgamento, há a sensação de retidão, as condições externas não bloqueiam, outros colaboram sem oferecer resistência, os frutos das ações são positivos e o desejo culmina em um sentimento de realização e satisfação.
·        Aceitação x rejeição: perceber de maneira infinita. Implica destruir uma imagem idealizada de si mesmo e dos outros, abandonar julgamentos e adquirir consciência.
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Um x muitos: entregar-se ou render-se ao Ser. Render-se implica derrubar os muros da fragmentação e encontrar um Ser maior.

O resumo do trabalho necessário de Chopra é o seguinte:

  1. Reconhecer a sombra nos momentos de negatividade na vida.
  2. Abraçar e perdoar a sombra.
  3. Perguntar a si mesmo quais as condições que dão origem à sombra: estresse, pressão, passividade, etc.
  4. Compartilhar os sentimentos com alguém de confiança.
  5. Incluir um componente físico: trabalho corporal, ioga, etc.
  6. Mudar a si mesmo e não aos outros.
  7. Meditar.

  

A posição de Debbie Ford é de que para voltarmos a ter uma vida inspirada, é preciso ver quais personagens ou aspectos sombrios saíram do campo de visão e encontrar maneiras seguras de trazê-los de volta ao palco, para lançar luz sobre os mesmos. Envolve aceitação de todas as nossas facetas de nossa humanidade. De outro modo, os personagens sombrios que foram expulsos do placo, uma vez reprimidos, orquestram de maneira silenciosa e secreta a nossa vida. “Quanto mais aceitação e expressão pessoal encontramos para nossos impulsos sombrios, menos teremos de nos preocupar com ataques-surpresa por parte deles” (p. 138).
Um self inteiro traz a totalidade e a singularidade. Isto também implica aceitar o conflito entre a natureza inferior e a superior como impulsionador natural da evolução. Os heróis devem ser tão fortes quanto os vilões. Mas fique atento para o fato de que asseguramos que nosso selffalho e imperfeito não seja descoberto desenvolvendo características opostas ao que tentamos esconder. Insegurança pode estar sendo “combatida” com arrogância. Impotência pode estar sendo acobertada por busca de relacionamentos com parceiros poderosos. Passamos a encenar uma personalidade e isto tira nossa liberdade e habilidade de escolher pois não conseguimos fazer nada fora daquela persona. “Quando nosso comportamento é incompatível com a máscara que usamos, nós nos esforçamos muito para escondê-lo” (p. 145).
Somos traídos quando o efeito sombra destrói o personagem perfeitamente construído. Mas isto é uma excelente oportunidade de nos reinventar como alguém diferente do que temos nos esforçado para parecer. A oportunidade se apresenta quando a parte de nós que repudiamos ou escondemos aparece na “tela” dos que estão ao nosso redor, com nossos julgamento e projeções. Na verdade, não é preciso procurar muito para descobrir que frequentemente fazemos exatamente o que criticamos nos outros. “Nossa sombra está quase sempre tão bem escondida de nós que é quase impossível encontrá-la. Se não fosse pelo fenômeno da projeção, talvez ficasse escondida pela vida inteira. […] Quando projetamos em outra pessoa, temos a oportunidade de enfim encontrar esses tesouros escondidos e ocultos” (p. 182).
Outro modo eficaz de entrar nossas sombras rejeitadas é ver nossos padrões negativos repetitivos. Eles são formados a partir de sentimentos reprimidos, aspectos rejeitados e vergonha ou medo. Então, cada vez que um comportamento tira a paz de espírito, prestamos atenção e examinamos a raiz do comportamento.
Outro aspecto da projeção ressaltado por Ford é que tanto projetamos sombra quanto luz sobre os outros. Então, “se estiver atraído por uma qualidade em alguém, […] ela também existe em você” (p. 178). Por isso, “pegar de volta a luz daqueles em quem projetamos abre a porta para um futuro inimaginável” (p. 181).
Marianne Williamson admite que tememos olhar para a sombra porque queremos evitar a vergonha e o constrangimento de admitir os erros. “[…] Ficaremos expostos demais. […] Tememos aquilo que podemos ver. Mas a única coisa que realmente devemos temer é não olhá-la, pois nossa negação da sombra é exatamente o que a alimenta” (p. 223). A autora nos lembra: “Todos somos sagrados; no entanto, o problema é que nossas cicatrizes não se mostram assim aos olhos de outras pessoas. Em vez disso, elas se mostram como defeitos de caráter” (p. 224).
Williamson acredita no poder de lançar luz para banir a escuridão e informa-nos: “Como todas as manifestações da sombra estão enraizadas nas ideias de separação, a cura do pensamento errôneo de que somos separados do resta da vida […] é a solução fundamental para o problema da sombra. A reconciliação da mente e do espírito, o regresso da alma ao seu conhecimento divino, é o ponto de iluminação que vem banir toda escuridão” (p. 228).
“O trabalho com a sombra é o trabalho do guerreiro do coração” (p. 249).

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