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6. Apolo, deus do sol, arqueiro, legislador, filho favorito
Está à vontade no reino celestial do intelecto, da vontade e da mente. Observa e age à distância. Deus do sol, das artes, especialmente a música, da profecia e da arte do arco e flecha. Delfos é o local de seu templo, das famosas inscrições “conhece-te a ti mesmo” e “nada em excesso”. É um dos gêmeos, junto com Ártemis, conhecidos por sua distância, por não se deixarem abordar e por desaparecer. Teve inúmeros amores mal-sucedidos.
Deus da profecia, ele mesmo não profetizava. Apossou-se do oráculo de Delfos, santuário pré-helênico dedicado a uma deusa, possivelmente uma deusa-serpente. As adivinhações eram feitas pelas suas sacerdotisas, a quem controlava. As pessoas dirigiam-se a seu templo para consultar o oráculo e obter purificação após cometer algum crime. Legisladores buscavam conselhos, de modo que Apolo estabelecia as leis e as interpretava. Era autoridade divina no que dizia respeito à lei e à ordem.
É aquele que enxerga nitidamente muito longe, mira um alvo e atinge com seu arco e flecha e cria harmonia com sua música. É aquele que deseja definições claras, domina habilidades e concentra-se mais no que está na superfície do que nos que está por trás das aparências. Favorece o pensar em detrimento do sentir e o avaliar objetivamente ao invés do intuir subjetivamente. Prefere o caminho firme e sólido e os alvos visíveis que requerem força de vontade, habilidade e prática. É o arquétipo da confiança, da mente lógica, da realidade objetiva e das leis de causa e efeito. É o menino dourado marcado para ter sucesso que sabe o que quer e tem força de vontade para alcançar. Tem boa noção do futuro sem ser sonhador. Deseja a posição de prestígio e o reconhecimento. Não cultiva a humildade. Tem ótima aparência, é elegante e de fisionomia franca, tira excelentes notas, toca um instrumento musical, tem bom desempenho nos esportes de cavalheiros e provavelmente é representante de classe. É extensão da vontade de um Zeus, seu pai ou um presidente e, por isso, filho e súdito favorito. Com isso, acostumou-se a ter vantagens, apesar de não cultivar a mesma ambição e capacidade de buscar o poder e reger, como Zeus. Por ser filho favorito, perece ter sido imune a dores e lutas. Pode ser o segundo nome na hierarquia sem sentir ressentimento ou inveja. Não guarda mágoas.
Defensor da lei e da ordem, fornece a estrutura para a união comunitária e os meios para resolução de desavenças. É o arquétipo da ordem e da forma. Instrui precisamente para decretar o que é e não é permissível. Idealista, vislumbra um tempo futuro de vida pacífica, justiça e igualdade. Julga-se capaz disso por sua capacidade de ver as coisas de maneira racional ou espiritual. Distante, reage à própria dor emocional separando-se dos sentimentos. Pode entrar na política, como se fosse um jogo sem inspirar os outros a enxergarem nele um chefe. É contrário a heróis e a ser considerado um, ainda que tenha ares.
Valoriza a prudência, evita riscos físicos, fica à margem quando convém. Pode vir a ser um general de poltrona e são os típicos “meninos maravilha”. A cultura patriarcal cultiva os Apolos. Espera-se deles que pensem e se expressem de forma verbal, lógica, elegante e de boa impressão. No mundo dos Apolos, boa educação e prática provavelmente levam ao sucesso. Acha fácil estar no mundo, pois tem as qualidades para ganhar aprovação. É o “certinho”. É realizador numa cultura que valoriza realizações. Recebe amor e aprovação pelo que faz. Apesar disso, são carentes nos relacionamentos e na vida interior.
Se a vida não lhe deu um pai Zeus, tem a propensão de encontrá-lo num mentor. Tem atitude de querer ser o melhor e agradar. Tem espírito ensolarado. Está acostumado a estar sob as luzes. É amistoso em dar e receber e pode até ser líder. Não costuma ter amigo favorito. Trabalha com afinco. Usa bem o tempo. No entanto, caso haja discrepância entre o que deseja ser e sua capacidade, pode ocorrer indignação e frustração.
Adapta-se bem ao trabalho em instituições, empresas e equipes esportivas. Desenvolve relacionamentos fraternos competitivos. Assume papel de liderança. Executa facilmente instruções. Trabalha bem na companhia de mulheres competentes. Normalmente não é empreendedor pela falta de motivação para acumular dinheiro e poder e também não tem postura decidida e impiedade de um Zeus. Por outro lado, negocia bem e entrega o que prometeu. Respeita e valoriza a senioridade.
É atraído por mulheres independentes, competentes, atraentes e que combinam com seu estilo de vida. Formam então o típico casal jovem cosmopolita. A relação tem sabor competitivo e crescem e se realizam divertindo-se em jogos e desenvolvendo habilidades. Não é bom amante, pois vive “na cabeça”. Além disso, não tem profundidade emocional. É um estrangeiro no território de Eros. Não costuma ser parceiro de copo de ninguém. É o típico “bom partido”. É ordeiro e valoriza a aparência. É previdente e chega ao fim da vida com lastro econômico.
São bons pais ou neutros na vida dos filhos. Transmitem máximas de comportamento aos filhos. A distância, no entanto, é a dificuldade comum. Normalmente, não está cônscio do custo psicológico da dedicação ao trabalho e da distância emocional. Pode não ser mais rapaz dourado na meia-idade e o vazio da vida pode aparecer na vida pessoal e no casamento.
Dificuldades psicológicas. Decorrem da sua distância emocional. Recua quando as emoções entram em conflito: “não vale a pena brigar por causa disto”. Requer que os outros decifrem suas poucas e geralmente codificadas palavras. Paradoxais em sua clareza e precisão lógicas e carência de palavras quando se tratam de sentimentos. É amante rejeitado por carecer de profundidade, intensidade, proximidade emocional e espontaneidade sexual. Apegado em excesso às aparências e à beleza. É narcisista. Pode assumir, por isso, mais do que pode pois tem ideia inflacionada de si mesmo. Pode ser letal em suas palavras “flechas” venenosas. Quando se expressa emocionalmente, pode ser de maneira irracional e primitiva, por ser parte sua subdesenvolvida. É solitário dentro do relacionamento.
Modos de crescer.Requer superar os limites da mente lógica e racional. Precisa conhecer tanto o coração quanto o corpo. Pode ser necessário desenvolver humildade, por meio do sofrimento, do luto ou do perdão por erros cometidos. Na mitologia, Apolo dividiu seu recinto secreto com Dionísio. Pode ser recado para desenvolver o Dionísio interior (veja abaixo). Deve, assim, buscar viver no momento, deixar-se absorver pelas sensações, sentimentos, imaginação e experiências externas. Abandonar o aspecto performance de suas atividades, especialmente sua vida sexual. Deve libertar, desenvolver sua mulher interior, especialmente no contato com mulheres amorosas.
7. Hermes, deus mensageiro e guia das almas, comunicador, traquinas, viajante
É deus do inesperado, da sorte, das coincidências e da sincronicidade. Na medida que as coisas se tornam rígidas ou empacadas, é ele que traz a fluidez e os recomeços, acompanhado da confusão e caos que marcam os inícios. Mestre da engenhosidade, guia dos bandos, amante e amigo das ninfas, tem o espírito da noite, do sono e dos sonhos. É deus dos aspectos joviais e dos sombriamente misteriosos, ternos ou sedutores. Personifica a rapidez de movimentos, agilidade mental, habilidade com as palavras, cruza fronteiras e muda de nível com facilidade. É o mensageiro dos deuses e guia das almas ao mundo inferior. Protetor dos atletas, viajantes, ladrões e comerciantes. O mais amistoso dos deuses para os homens. Hermes significa “aquele da pilha de pedras”, em razão das pedras empilhadas nos caminhos dos viajantes.
De acordo com o mito, Hermes nasceu pela manhã, inventou e tocou a lira à tarde, roubou as vacas de Apolo ao entardecer e à noite estava novamente em seu berço, fingindo-se de inocente. Cabe tudo num dia de trabalho. O próprio Apolo, ao descobrir a trapaça, chamou-o de “astuto enganador”. Apesar disso, é bem quisto no Olimpo por prestar inúmeros serviços aos deuses. Hermes teve vários romances e inúmeros filhos, mas nunca se casou no sentido tradicional. É considerado o deus solteiro.
Na alquimia representa o mercúrio, o espírito oculto da matéria, aquele que une os opostos, o masculino e o feminino e aquele que mostra o caminho para o ouro espiritual. Comunicador e utilizador de metáforas, é guia das almas nas jornadas místicas, míticas e psicológicas. Caracteriza o numeral dois, presentes nas duas asas do seu chapéu e pés e nas duas serpentes de seu caduceu. Tentar agarrá-lo ou fixá-lo é tão difícil quanto pegar mercúrio com os dedos.
É inventivo e capaz de pensar e agir rapidamente, tanto para obter resultados como para ludibriar. Ainda como arquétipo, é comunicador de significados e salvador da criança, do inocente e do vulnerável, incluindo o resgate da criança divina interior. Explorador de realidades extraordinárias. Resolve situações com abordagens criativas, quer sejam legais ou não. Não perde o sono refletindo sobre o que é certo ou errado. É traquinas, astuto e possui esperteza ao mudar de forma. Por tudo isto pode ser um Castaneda, um Robin Hood, um coiote, um camaleão, um John Kennedy ou um Prometeu, que roubou o fogo dos deuses para dar à humanidade. Pode ser o herói ou o vigarista e sociopata charmoso.
Como irmão mais novo de Apolo, pode ser ciente de seu status de “não-ter”. No mito, ao final, Apolo e Hermes trocam habilidades e poder, mas nestas permutas foi Hermes que começou com “nada” e ganhou muito. Por ser menor e menos experiente, faz uso da astúcia e das palavras para sair de confrontos físicos desvantajosos.
Deus das passagens significativas, ajuda nas transições psicológicas, nas passagens limítrofes e no espaço transicional, por isso suas habilidades podem ser úteis ao psicoterapeuta. É aquele que acompanha na jornada, guia do espírito e bom comunicador e professor daquilo que aprendeu em suas viagens. É ele que nos abre para a descoberta e para os eventos sincrônicos. Sem Hermes, fica-se apegado a itinerários, rotas e hábitos. Com ele, cada dia se configura por si próprio. Nos discursos, é a eloquência não planejada. Com ele, falamos espontaneamente, ao contrário de Apolo. É intuitivo, curioso e precoce.
A criança Hermes passa por todas as portas destrancadas. Inventa histórias e desculpas, passando a mentir habitualmente. Os pais precisam flagrá-lo e ensinar a diferença entre verdade e faz-de-conta. Não costuma se estabelecer. Sua casa é onde está a mãe, o que lhe dá liberdade para ir e vir. Combina bem com mulheres autossuficientes e não possessivas. É filho dedicado a seu próprio modo. O jovem Hermes questiona regras convencionais de sucesso. Testa limites. Tem diversidade de interesses. Talento, sorte e capacidade de mudar empreendimentos são traços típicos. Perambula. Corre o risco de ser perpétuo errante. Não costuma ser especialista nem engrenagem feliz de uma corporação. É engenhoso generalista e oportunista. Sting é um Hermes contemporâneo. Sempre com pressa, viaja com pouca bagagem. Com as mulheres, são os homens encantadores que surgem de repente e, assim como chegam, se vão. Há um quê de aventura e travessura nele. É esquivo. É um Don Juan. Pode se dar bem com mulheres que não alimentam expectativas irreais a seu respeito. É um eterno adolescente. Tem condições de dar-se bem no amor com mulheres que lembram Afrodite, em que ambos são não possessivos e têm abertura para passar por muitas experiências. Seus filhos têm caráter tão variado como o seu e, psicologicamente, não são os melhores pais e sabem pouco sobre disciplina. Porém, sabe brincar com os filhos, sair com eles em aventuras, valoriza a imaginação e é companheiro garoto. Pode ser ausente e até mesmo abandonar os filhos.
É capaz de ver o outro lado sombrio, hostil, psicótico, instintivo, sexual ou agressivo e também o altruísta, místico e iluminado sem fazer comentários condenatórios. É prestativo, generoso e amistoso, repartindo com os amigos. Mas age por impulso e “pega o que quer”. É o sedutor e manipulador. Passa grade parte do tempo na companhia de grande variedade de homens. Porém, é, no fundo, solitário e gregário. Partilha com os amigos atividades, raramente aspectos da própria vulnerabilidade ou intimidade.
Constata que em sua meia idade se oferecem mais opções que em qualquer outra fase da vida e podem passar a explorar a vida interior. Mas fica claro que as atitudes sedutoras já não funcionam para encobrir sua falta de substância. Na terceira idade, é sujeito incomum, diferente do aposentado resignado e entediado. Pode ser palestrante ou autor de sucesso. Até o dia em que morrer estará explorando novas dimensões, podendo considerar a morte sua próxima aventura.
Dificuldades psicológicas. Dificuldade para aprender a respeitar bens, sentimentos e direitos dos outros. Precisa ser ensinado a ter limites e obedecer. Não usam de força ou violência, mas, ao serem flagrados, a prisão lhes é difícil. É seu maior desafio: rotina, confinamento e falta de liberdade. Acha difícil se aquietar num lugar, apesar de achar fácil começar. Então, terá somente entendimento ou habilidade superficial. Até que geralmente possa ser tarde demais, acredita-se imortal. A vida passa e vive como Peter Pan. São ausentes de compromisso emocional e intimidade. É esquivo e pai inadequado.
Modos de crescer.Passar a agir com consciência das consequências de suas atitudes e dizer “não” ao seu lado impulsivo. Deve contar com a clareza e o raciocínio de forma consequente de Apolo, contar com sua ajuda. Pode buscar a um pai mentor Zeus, para reconhecer e respeitar uma autoridade. E deve buscar a Afrodite na mulher externa e no seu lado feminino.
8. Ares, deus da guerra, guerreiro, dançarino, amante
“Homem de ação” do Olimpo, é deus da guerra e das discussões, amante inquieto e turbulento, prospera nos conflitos e adora seus prazeres. É a agressividade nua e sangrenta. É a imagem da força física masculina. Vigoroso e viril, age com o corpo e não dá importância às consequências. Irracional e sedento de contenda. Seu tutor o ensinou primeiro a dançar e depois para ser guerreiro. É também choramingas, tendo sido seguidamente derrotado, ferido, insultado ou envergonhado por sua meia-irmã Atená. Descrito como criatura que não sabia o que é certo, de falta de caráter e de reações emotivas. Reativo, o que vale é o aqui-e-agora. É o guerreiro herói e brigão. Rambo é o herói ariano típico. Representa frenesi descontrolado e irracional de batalha. Guerreia pelo prazer.
Foram amantes famosos Ares e Afrodite, do qual nasceram vários filhos. E termos de qualidade, sobressaem-se o coração e a coragem. Predispõe o homem a estar em contato com seus sentimentos e corpo, aspectos favoráveis ao fazer amor. É de reações intensas e apaixonadas. Tem sexualidade exuberante e pessoal, sem a dimensão extática e transpessoal de Dionísio (ver abaixo). É guerreiro dançarino, assim como nas culturas tribais: antes da guerra, a dança. “Os tambores e a música encorajam o guerreiro a se tornar Ares” (p. 287).
Foi rejeitado e humilhado pelo pai, Zeus. Em geral, é menosprezado pelos homens que exercem poder à distância. Ares, pelo contrário, desce ao nível do soldado no campo de batalha. Rejeitado também por sua cultura, pois os gregos idealizavam o pensamento e a racionalidade. Talvez tenha sido rejeitado por representar sua sombra. No patriarcado, sexualidade, violência e seu aspecto dançarino são atributos do filho “inferior”.
Homem protetor, cuida do que é seu, seus filhos e filhas. Foi o único deus a proteger os filhos desta maneira. Entra na luta quando alguém que lhe é caro é atacado. Não fica remoendo raivas, como seu tio Poseidon. Lambe as feridas e segue em frente.
O homem Ares é pessoa firme, ativa, intensamente emocional e expressiva. A criança, quando choraminga, seu corpo todo está envolvido no protesto. Come com vontade, é envolvente, gosta de estimulação, sente prazer físico em brincar, fazer algazarra e confusão. É destemido. Necessita de pais firmes, amorosos e pacientes. Não é cuidadoso, especialmente com a língua; pode dizer coisas que provocam violência num pai dado à agressividade. Se tiver mãe dócil, vai tiranizá-la. Os pais devem saber canalizar sua energia para atividades físicas, especialmente as que o ajudem a aprender a ser paciente e disciplinado.
No trabalho, aprecia estar em movimento. Fica entediado no escritório e com papéis, especialmente se estão envolvidas metas de longo prazo. Não se encaixa na hierarquia empresarial. As ocupações que apresentam riscos e as que permitem lidar com a lealdade fraterna o interessam. É o atleta, ator e dançarino em essência. Seu sucesso depende em grande parte da sorte, pois é avesso a planos de longo prazo e tem problemas com figuras de autoridade.
No amor, têm intensidade e sensualidade, mas também são tempestuosos, cheios de brigas e reconciliações. Costumam sentir-se frequentemente julgados pelas mulheres, alimentando e acumulando ressentimentos até a explosão de raiva. Gosta de mulheres com quem podem ser espontâneos e manifestar corporalmente seu afeto. Adora fazer amor e ama o corpo feminino. Não planeja o casamento nem o evita. Deixa-se envolver e não pensa no futuro distante. Gosta de passar o tempo com amigos, fazendo atividades, em esportes ou jogos. Não se interessa por conversas profundas ou filosofia. É ligado aos amigos e os defende fisicamente, especialmente se vestem o mesmo uniforme.
Como pai, ensina os filhos a jogar, brinca de luta com eles e gosta de tê-los por perto. Dança com a filha, leva-a ao colo e aos ombros. É da sua natureza a generosidade quando tem algo que possa dar. As crianças têm a sensação de que podem contar com o pai. Por outro lado, se for raivoso, podem sofrer agressões e abusos físicos.
Quanto ao sucesso, teve que lutar muito para chegar a um lugar, arduamente conquistado com sua força individual. Carece dos outros para apreciar sua exuberância. A morte pode levá-los cedo, por violência ou acidentes. A vida deste homem é mais fisicamente perigosa. Sua vida inteira é resultado de escolhas pessoais baseadas em reações autênticas ancoradas em sua verdade pessoal.
Dificuldades psicológicas. Por ter sido escorraçado, o homem Ares conhece o que é ser vítima de abuso e rejeição. Isto levará a uma série de dificuldades. Se não se libertar de ser “só” Ares, continuará tendo problemas na vida, pois lhe faltarão escolhas. Pela máxima da identificação com o agressor, o menino Ares agredido será agressor na adultez, perpetuando os pecados dos pais. Em parte, essa perpetuação tem a ver com o fato de não conseguir sentir solidariedade até seja capaz de expor-se como a vítima que ele mesmo foi. É muitas vezes o bode expiatório, rejeitado e excluído de um grupo. Pode ser frequentemente despedido, pois explode, tem dificuldade em fazer “o que manda o livro”, fala o que pensa e não é estrategista. A repressão frequente pode levá-lo ao álcool, única fonte de dissolução da inibição. É ciumento e pode ter relação turbulenta. Pode ter filhos bastardos.
Modos de crescer.Ocorre quando é capaz de encontrar escolhas entre reagir ou não a uma situação. Apesar de difícil, autocontrole é uma lição importante. Outros deuses podem servir de exemplo, como Hermes que o salvou quando criança ao ser capturado e preso dentro de um jarro de bronze. Hermes, ou ainda Atená, podem ajudá-lo a aprender a falar o que tem em mente, ao invés de sair batendo, ou no contato com um treinador ou terapeuta, pessoa que se importa com ele de verdade. Atená pode ser a voz feminina interna. Ainda pode canalizar sua impetuosidade sendo servil e protetor de sua comunidade.
9. Hefesto, deus da forja, artesão, inventor, solitário
Artífice e serralheiro dos deuses, em cujas forjas era usado o fogo dos vulcões, foi supremo e inigualável em seu ofício, mas inteiramente perdido no mundo moderno fora de suas oficinas. É o mestre em criar objetos funcionais e belos. É gênio criativo e o único deus que trabalhava. Trabalha sozinho em sua forja no fundo da terra. É o deus do fogo subterrâneo e controlador da força destrutiva dos vulcões. Homem grande, musculoso, robusto, mas cujo pé defeituoso o tornava deformado, tendo se tornado inseguro, rejeitado e infeliz. É o único deus imperfeito do panteão. Hera, sua mãe, o rejeitou pelo seu defeito e atirou-o do alto do Olimpo, sendo salvo pelas ninfas do mar Tétis e Eurínome, com quem aprendeu a ser artesão inventivo, criando belas joias. Ter sido expulso do Olimpo é como a queda de Adão e Eva. Em ambos mitos, o sofrimento e a necessidade de trabalhar decorrem da expulsão.
Como amante, foi o marido traído de Afrodite. Ele próprio criou armadilha para flagrá-la na traição, tendo apanhado a esposa com Ares. Ao chamar os deuses para testemunhar, em vez de ficarem a seu lado, tiveram acesso de riso. É o arquétipo do desvalorizado numa sociedade que cultua heroísmo, intelecto, valores espirituais elevados, poder e capacidade estratégica. Numa cultura de deuses celestes, tudo o que é da terra é depreciado ou oprimido, assim como a Mãe Terra, os sentimentos apaixonados, instintos, o corpo as mulheres e os homens como Hefesto. Nos mitos, é o típico bufão ridículo, bêbado ou marido chifrado.
É o deus da forja, inclusive da alma, ao conferir a ela aspectos tangíveis. O fogo subterrâneo é metáfora para os sentimentos quentes, o fogo sexual e erótico contido no âmago do corpo, a ira, a raiva e a paixão pela beleza, todos contidos abaixo da superfície da pessoa introvertida. Sua imperfeição física não se separa das feridas emocionais. Entra em ação o instinto de trabalhar como meio de evoluir e curar feridas emocionais. Assim, criatividade e dores emocionais caminham juntas. É também o modelo do curador ferido, cuja motivação vem da sua própria ferida. É pacificador da família, sabedor das dores de ter pais zangados. Resiste ao uso da força. Nem mesmo Ares foi capaz de compeli-lo a brigar quando não desejava.
Cultivar Hefesto é deixar-se absorver por alguma coisa que se faça com as mãos, ou ainda enfatizar a importância de períodos de tranquilidade entretida. Na vida, Hefesto é pessoa intensa e introvertida, de modo que é difícil saber o que se passa no seu interior. Pode ser o aleijado emocional, vulcão fumegante ou homem produtivo altamente criativo. Tem mentalidade muito própria e se deixa absorver pelo que o atrai. Solitário, observa os acontecimentos da periferia e nunca parece estar no centro. Tem mais interesses por coisas e máquinas do que por pessoas. Pode ter autoestima se for valorizado por sua individualidade e ativamente incentivado a buscar seus próprios interesses. Pode despertar a cólera dos mais velhos se Hefesto não conseguir perceber o que os outros querem dele, pois não é diplomático e seus sentimentos são intensos. Difere dos outros irmãos por ser sério, intenso, melindroso, retraído e antissocial “demais”. Acaba ruminando a raiva desta rejeição. Se tiver a sensação de que “não pertence a esta família”, pode buscar “verdadeiro” tutor.
Se permanecer infeliz e enraivecido, pode intimidar outras pessoas, mas é mais característico conter sua raiva. O que o salva de cair em depressão é o trabalho físico intenso. Homem algum é mais dedicado ao trabalho. Tem poucas habilidades políticas ou sociais e é reconhecido apenas pelo resultado do seu trabalho. É ele que dá aquela sensação da relação profunda com sua evolução, por meio da manifestação tangível da sua própria psique. Assim, é relevante que descubra o que ama fazer, pois sua motivação não estará no lucro, na competição ou no poder. Tem dificuldade para vender seus próprios produtos e sua imagem.
Suas mulheres podem ser complementares. Se for uma Afrodite, há o casamento da criatividade com a beleza; se for uma Atená, ela é aquela que permite que o homem saiba como levar seu trabalho ao mundo. As mulheres são muito importantes para o homem Hefesto: mães, professoras, diretoras, donas de galerias de arte, chefes. Sua introversão leva a poucos relacionamentos significativos e distantes uns dos outros. Evita o jogo da conquista. Monogâmico e fiel, espera da parceira a mesma conduta, apesar de isso ser difícil pela sua negligência. Seu trabalho é como sua amante, cobrando seu tempo e sexualidade. Ao fazer amor, sua vivência interior é mais presente do que as sensações. Ainda assim, sua parceira é fonte de sua experiência interior e ele pode realmente adorá-la. O casamento é tanto excepcionalmente importante como problemático. Os relacionamentos em geral ficam a cargo da esposa, bem como o estabelecimento e manutenção do seu trabalho no mundo. Pode ser ela que vende as suas obras.
Muitos homens Hefesto preferem não ter filhos, mas se os tiverem, estarão felizes em partilhar sua oficina e sua ligação poderá ser visceral. Alguns problemas são previsíveis, como a dificuldade de comunicação. Além disso, não costuma apreciar mudanças, que é exatamente o que ocorre com filhos em crescimento ou adolescentes.
Não aprecia a camaradagem extrovertida. Sua natureza o impede de ser integrante de grupos. O papel de deslocado é tanto atribuído como escolhido. Costuma ter problemas com os homens em posição de autoridade. Não é motivado por exigências externas, nem a conformar-se, nem corresponder expectativas. Pode ser amigo de um Dionísio, pois só outro homem intenso e deslocado pode ter êxito na amizade. Podem beber como ritual de estreitamento de laços. Dionísio é capaz de colocar em palavras ou demonstrar fisicamente o que Hefesto tem dificuldade.
Dificuldades psicológicas. Homens Hefesto não correspondem à expectativa cultural. “As alturas do Olimpo são ocupadas por homens que não fazem nada de tangível com as próprias mãos: são mais investidores e negociadores” (p. 351). Logo, ao longo de toda vida, sofrerá as consequências de ser rejeitado. Para Hefesto, o mundo não é um bom lugar. É facilmente magoável e retraído. Fica inibido e alienado dos outros. Pode sofrer de distorções entre sua percepção interior dos acontecimentos e o que “aconteceu de verdade” no mundo exterior. Sua maneira particular de ver as coisas tem a ver com o efeito emocional que elas têm sobre ele. Pequenos gestos de ternura podem emocionar profundamente. Sua memória não conserva os fatos, mas a impressão emocional.
Fora da oficina, torna-se bufão, sem querer. Como é pior mostrar oposição, assume o papel. É o solitário rejeitado sem ninguém para defendê-lo. Também assumem a persona da afabilidade – o “cara legal”, que oculta a raiva e a depressão. Pode ser alcoólatra. Paga preço elevado para manter a paz, pois sacrifica partes de si mesmo para tal, ao preço da sua própria autenticidade. Se tiver dificuldade em ganhar dinheiro, pode ficar ressentido por não ser provedor familiar.
Modos de crescer.O crescimento começa com a percepção de que houve algo errado na maneira como foi tratado e criado. A seguir vem a valorização de quem ele autenticamente é por meio das coisas que faz e, também, superando o arquétipo. Precisa levar a sério a máxima de Apolo “conhece-te a ti mesmo”. Psicoterapia pode ser indispensável. Precisa da objetividade e solidariedade de outra pessoa. Diferente de Hades, que está confortável em sua reclusão, Hefesto precisa do envolvimento com outras pessoas. Assim, é preciso empreender o conhecimento dos outros, também, de uma forma menos estritamente subjetiva. O desenvolvimento de outros arquétipos é relevante, especialmente Hemes, Apolo, Atená e até mesmo Zeus. Pode eventualmente precisar de “pais substitutos”, outras figuras parentais para reafirmá-lo e dar-lhe valor e mesmo ensiná-lo e patrociná-lo.
10. Dionísio, deus do vinho e do êxtase, místico, amante, nômade
Dionísio era próximo da natureza e das mulheres. O místico e o feminino lhe são familiares. É ainda deus do terror, da loucura e da abençoada libertação. Também é a umidade germinativa, propiciadora de vida, como a seiva e o sangue. Dionísio, após Zeus ter matado sua mãe mortal, foi arrancado do útero e costurado dentro da coxa do próprio Zeus, que serviu de incubadora. Em verdade, Zeus salvou a vida do menino em pelo menos mais uma vez, em função da ira ciumenta de Hera. Foi tutorado por Sileno que lhe ensinou os segredos da natureza e da produção de vinho. Em vários mitos, o jovem Dionísio era acometido por loucura e violência, sempre influenciados por Hera ou pelos que o rejeitavam. Réia foi sua tutora para os ensinamentos sobre ritos de iniciação. Além de deus, foi sacerdote da grande deusa. Na mitologia grega, Dionísio é um dos únicos deuses que salva e resgata mulheres, ao invés de violentá-las.
Adoradores de Dionísio comungavam nas partes mais selvagens das montanhas. Lá entravam no terreno do emocional e do irracional, dançando sob efeito de músicas alucinantes. Sua celebração chamava-se “Orgia” do deus e os celebrantes entravam em êxtase e se sentiam unos com Dionísio. Em Delfos, Apolo entregava a Dionísio seu santuário nos três meses do inverno. Entrelaçou vida e morte. Foi deus adulto que morria, passava um tempo no mundo inferior e voltava a ser bebê recém-nascido.
Como arquétipo, é de poderosos potenciais positivos e negativos, criando conflitos na psique e na sociedade. Está presente nos homens místicos. E nos homens e mulheres que experimentam o êxtase e impulsos contraditórios. É também o arquétipo da criança divina, aquela predestinada, precoce e que fala com os sonhadores. Como eterno menino, é parceiro arquetípico de Hermes. Absorvido pela atual paixão, esquece-se das obrigações. Não se compromete com metas nem com relacionamentos de longo prazo. A regularidade e constância são estranhas a Dionísio. Vaga por muitos lugares. É temperamental. Fascinado por músicas e drogas que alterem o humor e a consciência. É o deus dos hippies.
Como Dionísio desceu até Hades para encontrar sua mãe, é o buscador da mulher idealizada que é tanto mãe como amante. Sente-se profundamente vinculado ao mundo maternal e às mulheres e gosta de estar na companhia delas. Elas, por sua vez, sentem-se compelidas a cuidar de Dionísio. É deus místico e xamã. O mundo invisível é familiar e pode levá-lo a insights. Deus de oposições intensas, das antíteses do êxtase e do horror, da vitalidade e da selvageria, no pandemônio e no silêncio profundo, na presença imediata que é, ao mesmo tempo, absoluto distanciamento. Atravessa facilmente a linha demarcatória dos opostos.
Foi perseguido e hostilizado e, por isso, nômade. Atiçava as mulheres a sair de seus lares e abandonar o fogo e os afazeres para segui-lo no êxtase. É o deus da sensação de estar partido psicologicamente em muitos pedaços. Não é o deus dos homens que sabem as horas, dos pensamentos que se acumulam e da preocupação com passado ou futuro. É o deus que convida a aproveitar o momento, dançar com espontaneidade o carnaval e os bailes a fantasia.
O homem Dionísio não seguirá o “padrão dos rapazes”, sendo feminino e místico “demais”, contracultural e ameaçador, atraente e fascinante “em demasia”, chamando para que as pessoas se entreguem ao prazer, tornando a vida comum difícil ou impossível. Chora facilmente e ri com gosto. Não se preocupa em ter sucesso. Busca experiências de êxtase na sexualidade, espiritualidade ou drogas, frequentemente influindo na carreira profissional. Aliás, não sente atração por carreiras competitivas baseadas na ambição nem pelo mundo acadêmico ou das ideias. Não vê sentido em poder ou prestígio. É individual demais para ser parte de um time ou hierarquia.
Parte considerável de sua energia psíquica está ligada ao sexo, da mesma forma que outro homem faria com a carreira profissional. Quanto às mulheres, sua motivação não é a conquista, mas a experiência em si. Não é o típico homem “bom para casar” nem o provedor clássico de uma família. A vida com ele é emocional e economicamente imprevisível.
Dificuldades psicológicas. Pode passar por grandes crises emocionais nas transições, mas a mais intensa pode ser na meia-idade. Precisa de um Eu forte para ter escolhas. Sua autoestima pode ser carente como resultado da vida. Se foi criança divina, pode ter ideia irreal de ser especial e merecer privilégios. Pode ter dificuldade em ter noção realista de si e do seu valor. Como o “deus louco”, pode desenvolver psicoses. Vai do pandemônio ao silêncio entorpecido e melancólico. Suscetível ao abuso de álcool e drogas. Pode reagir de forma psicossomática. A vida dos que o rodeiam raramente é monótona, para o bem e para o mal.
Modos de crescer.É o que requer o trabalho mais complexo, pela complexidade da personalidade. Basicamente, necessita desenvolver um Eu observador e autorreceptivo. Pode encontrar aliados, interna e externamente, em um Zeus, Hermes ou Apolo, suas sombras. Se possível e adequado, encontrar uma figura paterna, como mentor ou terapeuta, pode ajudar. Cultivar habilidade de ir do alto ao baixo sem cair em armadilhas emocionais. Superar a identificação com a criança divina e com o eterno adolescente para torna-se mais herói. Formar vínculo com pessoa que ame, como uma Ariadne.
11. O trabalho de “re-membrar-se” por meio dos mitos
Ao passar pelos deuses, encontramos reflexos de nós mesmos, como grandeza, significado e limitações. Encontramos também a face do que rejeitamos. Reconhecemos nosso papel individual e, também, as características e as raízes do mundo patriarcal que conhecemos e que molda os homens. Espera-se que os homens abandonem as mães e renunciem à semelhança com elas. Os pais são distantes e contidos. Há competição entre os homens, que negam sua vulnerabilidade. Controlam as próprias emoções e se distanciam dos sentimentos. Conformidade à norma é essencial para a sobrevivência e a identificação com o agressor, na família, escola e trabalho é dinâmica perpetuada.
Alguns homens falam de uma era de ouro em que podiam estar com outros meninos, homens e mulheres sem temor. Segundo a autora, esta situação é uma questão de sorte e é mais a exceção que a regra. O amor prosperou nesta época, mas então é chegada a hora da separação. Os bem-sucedidos, no final, precisaram passar por inúmeras separações dos que não o acompanharam. Separado da mãe, perde contato com a parte interior de si próxima a ela. É a perda de uma parte inocente de si. Perde também os companheiros na jornada e a parte de si mesmo que lamenta isto. Não pode chorar quando está triste e perde o contato com suas emoções. Na separação dos “homens dos meninos”, é sacrificado o que há de terno em um jovem para que possa integrar-se às fileiras de homens. Os que possuem elemento condizente com o mundo patriarcal, como os Zeus, Apolos e Hermes terão probabilidade de sucesso. Aqueles que adoram cultivar o solo, fazer coisas manuais, música, lecionar ou trabalhar com os pequenos, além de inúmeras outras atividades de outros elementos, perderão contato consigo mesmos se obrigados a trabalhar nas organizações. Até que em algum ponto da meia-idade a depressão chega para cobrar o preço, trazendo solidão, tristeza e falta de significado.
A alternativa é a busca pelo que é verdadeiro no interior de cada um, por uma vida significativa, por crescimento proporcionado pela consciência e pelo contato com as partes reprimidas, mas não mortas, separadas de si mesmo, internas e externas. Desenterrar o que foi “enterrado vivo” e “remembrar” o próprio Eu. Tudo isto envolve encontrar seu próprio mito e vivê-lo profundamente. Certa vez, o mitólogo Joseph Campbell foi questionado por um jovem: “‘Como é que uma pessoa pode encontrar seu mito?’ Campbell: ‘Onde está sua mais profunda sensação de harmonia e bem-aventurança?’ Jovem: ‘Eu não sei – não tenho certeza.’ Campbell: ‘encontre-a – e depois siga-a’”. Harmonia e bem-aventurança é estar no caminho certo, identificado com ele, sabendo que é “certo” estar ali, onde há espontaneidade desinibida e simples, em contato com o riso imediato e os olhos cheios d’água. É a verdade mais elevada de si próprio, quando o que se faz é congruente com o lastro arquetípico e sentimos o divino em nós mesmos. Mesmo que tenhamos que ir contra o grupo, os deuses estão a nosso lado.
No final, haverá uma “volta ao lar” – aquele destino psicológico de conexão com um centro espiritual, um Eu sagrado, aquecido por Héstia, a deusa do fogo na lareira redonda do lar. Lá há quietude interior e sensação de totalidade.
12. Um deus faltante
Os novos homens encenam uma nova história. São representados simbolicamente por aqueles que acompanharam o trabalho de parto de suas esposas. São os pais participativos. O deus que falta tem um quê da evolução de Zeus, que já não tem mais o poder supremo na medida da dissolução do patriarcado. Tem também um feminino Métis, a deusa da sabedoria feminina divina, interna e externamente. O novo arquétipo é como o filho de Métis e de um Zeus evoluído, “remembrando” a mãe natureza e a dimensão sagrada da Terra. Este será o filho que suplantará Zeus.
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